segunda-feira, 7 de abril de 2014

"NADA DO QUE FOI SERÁ DO JEITO QUE JÁ FOI UM DIA(...)"


Reproduzimos entrevista do reitor da UFSB, Naomar Almeida, publicada pelo jornal Agora nesse fim de semana. Ao lado de Naomar, o superintendente da Ceplac, Juvenal Maynart, que também responde a algumas perguntas. 
Como diz Lulu Santos, também citado na entrevista, "nada será como já foi". Do material, extraem-se duas certezas: a Ceplac não morre. Mas, também, não será a velha Ceplac. 
Como dissemos no sábado, uma parceria que dá chocolate. Com política, claro.   
À entrevista! 

“A UFSB vai contribuir para a reestruturação institucional da Ceplac”

O professor Naomar Almeida, que coordena a implantação da Universidade Federal do Sul da Bahia não cansa de elogiar a sinergia com a Ceplac. Ele diz que isso permitiu um avanço mais rápido do que o esperado para o início de atividades que poderiam durar muito mais tempo, como a implantação de cursos de pós-graduação. Em contrapartida, a Ceplac está para se tornar uma instituição mais ágil, “dentro da modernidade”, como gosta de frisar o superintendente Juvenal Maynart, a partir da parceria com a UFSB.

Essa sinergia, dizem os dois, transformará a região sul da Bahia em um centro de inovação, de forma que as potencialidades possam ser aproveitadas em benefício da sociedade. A proposta é amplificar o potencial de cada uma das duas instituições: a Ceplac terá turbinado o seu parque tecnológico e sua extensão rural, e dará as cartas nos cursos de pós-graduação em ciências agroecológicas, com base na proposta da Conservação Produtiva. A UFSB utilizará grande parte da estrutura física e capital humano da Ceplac para fazer deslanchar mais rapidamente seu projeto de universidade inclusiva, antenada com as demandas da sociedade.

Mas, a parceria pode melhor ser explicada em uma frase cheia de simbolismos do professor Naomar Almeida: “Acreditamos que a universidade vai contribuir para a reestruturação da Ceplac”. Ou seja, em três anos, esse casamento, sem compromissos monogâmicos mas extremamente sólido, vai transformar as duas instituições, sendo que uma irá recuperar seu fôlego, e a outra estará plenamente consolidada. O combustível, como se vê na entrevista que segue, é a patrticipação da sociedade e do setor produtivo, com um aditivo: a disposição para transformar erros do passado em oportunidades históricas.

Jornal Agora – A UFSB planeja iniciar as aulas em setembro. Já lançou dois editais de concursos e corre contra o tempo. Como está o andamento dessas questões?

Naomar Almeida –
São dois concursos, um para professor e um para pessoal técnico-administrativo. Para professor serão 28 vagas, com salário inicial de R$ 8.900,00, e as inscrições vão até o início de maio, com a realização das provas no final daquele mês. Para o pessoal técnico, serão 92 vagas, sendo metade para nível médio e metade para nível superior. O de professor será realizado apenas em Itabuna, e o outro, nas três sedes – Itabuna, Porto Seguro e Teixeira de Freitas, o que garante uma maior participação de candidatos da própria região.

Esse pessoal que está sendo contratado, junto com a equipe que o senhor já dispõe, será suficiente? Outra coisa: em ano de eleição, com as restrições para contratação no serviço público, será possível concluir esses processos?

Eu diria que esse é o embrião, porque até o fim do ano teremos um novo concurso em que pretendemos contratar mais cerca de 150 professores, nessas mesmas condições, até alcançar o número que estimamos, que é de 617, ao longo do próximos anos. O pessoal técnico-administrativo será contratado gradativamente, de forma que em três anos, complete 640 servidores. Quanto aos prazos, vamos realizar todas as etapas e, até o fim de junho, estaremos com o concurso concluído e homologado, para atender ao calendário da Justiça Eleitoral. Em dezembro, recomeçamos as contratações.

E as aulas, começam em setembro?

Sim, o início está garantido para setembro, porque temos um excelente time de professores que já está na região, cedidos de outras universidades, experientes, que nos garantem essa possibilidade. Com esses 28 que chegarão, será suficiente para esse primeiro momento.

E a proposta dos colégios universitários, nos diversos municípios da região? Esses municípios se integraram, há alguma dificuldade?

Nossa dificuldade é banda de internet. A região é mal servida nesse sentido, e onde há sinal esse é de pouca robustez. Estamos fazendo alguns investimentos que compensam essa deficiência a partir de nossas sedes, mas é preciso que essa cobertura maior chegue aos municípios, se não, será impossível. A ideia é entrar com 600 alunos nas três sedes, sendo 50 vagas para cada um dos quatros bacharelados interdisciplinares, em cada uma das três sedes. Vamos decidir quais são os municípios que vão fornecer alunos nesse primeiro momento.

Em quanto tempo a universidade espera operar com sua capacidade máxima de alunos?

Em trê anos. Nesse período estaremos com 5 mil vagas nos colégios universitários. Atingiremos 29 municípios, com 36 colégios universitários, que é o que nós planejamos inicialmente.

A UFSB, em outra direção, está fazendo convênios com a Ceplac, nos cursos de pós-graduação. Como isso está avançando?

São dois tipos de cursos de pós-graduação, lato sensu e stricto senso. Os cursos lato sensu são aqueles mais voltados para especialização, aperfeiçoamento, e esses a universidade tem autonomia para abrir. Estamos trabalhando em conjunto com a Ceplac, na montagem do primeiro elenco desses cursos. Vamos trabalhar em cima do que a Ceplac indicar como prioridade, e também vamos aproveitar seu corpo técnico e instalações. No dia 15 de abril teremos uma definição desses cursos.

E mestrados e doutorados, também é possível esperar algo nese sentido?

É, sim. Mas para os cursos stricto senso, mestrados e doutorados, precisamos de autorização da CAPS. O prazo para apresentação de propostas é 31 de maio. E estamos planejando, junto com a Ceplac, apresentar algumas propostas. A primeira é o curso de Agroecologia, com base na Conservação Produtiva. Vamos apresentar outros, inclusive estamos fazendo uma enquete para que a região aponte quais os cursos que quer ver implantados. Já temos algumas indicações.

Quais seriam as principais dificuldades para implantação desses cursos, ou mesmo de abrir um leque maior?

Primeiro, não é uma dificuldade, mas nos mantemos fiéis à proposta de implantação compartilhada com a sociedade, ouvindo as demandas. Algumas universidades trazem os pacotes prontos, e apenas depois vão saber se aqueles cursos se adequam à realidade local. Depois tem a questão da imprevisibilidade do perfil de nossos professores, que serão aprovados nos concursos. Sabemos que é melhor aproveitar a experiência de cada um em suas áreas do que colocá-los em áreas que não estão familiarizados. Mas, em síntese, nossa proposta não é usar o sistema linear, em que o aluno entra e se espera a conclusão da graduação para oferecer os cursos de pós-graduação. Adotamos uma proposta sistêmica, abrindo desde o Colégio Universitário e já, se possível, até o mestrado e o doutorado.

A Ceplac está propondo a criação de um Parque Tecnológico. Como está avançando essa questão?

Eu pediria inicialmente que o superintendente Juvenal Maynart responsdesse.

Juvenal Maynart – O desenho está sendo finalizado, e vamos fazer uma reunião com todos os atores – MDA, secretarias estaduais do Planejamento e da Ciência e Tecnologia, Ifs, UFSC e Uesc – para definir a governança, o que vai permitir que possamos desenhar as parcerias com as diversas instituições e com o governo, para montar as incubadoras. Esse parque vai permitir que possamos voltar a dominar a tecnologia de ponta para aproveitarmos as potencialidades de nossa região. Sendo que não será restrito ao cacau, para que não repitamos o erro de manter todo o foco em cima de uma única base, um único cultivo.

Qual seria a prioridade?

Hoje temos, no espaço rural da região, por exemplo, florestas plantadas em franca expansão, temos diversos outros cultivos que podem ser aperfeiçoados. Por outro lado, na vertente acadêmica, temos diversos cursos na Uesc e no próprio IFBA que podem ser direcionados para resolução dos problemas da região. O importante é que, com esse parque tecnológico, formando empreendedores, vamos nos tornar competitivos, coisa que não ocorre na região.

E o senhor, como vê essa proposta do Parque Tecnológico?

Naomar Almeida –
Normalmente as escolas de educação superior formam pessoas para as profissões, profissionais, funcionários. A nossa intenção, convergindo também com o que pensa a Ceplac, é formar empreendedores. Então, o Parque Tecnológico é um conjunto de órgãos que são treinadores de pessoas para inovarem, para usar a inovação, que é um processo dinâmico e constante, de descobrir qual é a melhor forma de produzir certas coisas.

O senhor falou da escola que educa para a profissão e a que educa para o empreendedorismo. Qual a diferença entre uma e outra, se todas visam atender ao mercado?

Você ter (educar) um perfil de sujeito que só pensa em fazer concurso ou ficar batalhando para ser empregado, é totalmente diverso de formar agentes econômicos, autônomos e produtivos. A lógica do funcionário é, por exemplo, você ter uma fábrica em que todos são empregados, com salário, 13º, férias e tal. Se a fábrica vai bem e ganha muito dinheiro, os empregados terão apenas esses mesmos ganhos. Se, por outro lado, esses funcionários tem uma relação de colaboração e partilha, a renda dele não é de salário, mas de participação. E a universidade que educa visando que os estudantes se tornem funcionários está num caminho totalmente diverso da que educa para o empreendedorismo.

Foi informado, há um tempo, que nesse parque tecnológico serão aproveitadas teses de alunos para que sejam as ideias que vão permitir nos tornar a região de empreendedores e inovadores que o senhor destacou. É assim mesmo?

É, sim, visando resolver os problemas da região. Na verdade, é um pouco mais radical. Essas teses não serão apenas aproveitadas pelo setor produtivo, mas serão construídas para o setor produtivo, o que não quer dizer apenas o mercado, porque inclui também o setor público. Um exemplo seria uma tese que ajudasse a resolver problemas de saneamento, que é um problema do setor público. O município poderia ter seu plano de saneamento a partir de um trabalho de conclusão de curso. Outra questão é o programa de residência para todos. O mestrado será uma residência. Um aluno termina a graduação, passa pela especialização e vai fazer o mestrado numa temática definida pela sociedade, visando atender ao setor produtivo.

Vocês disseram que a Ceplac e a UFSB vão ser parceiras, também, em cursos que funcionarão na própria Ceplac. Isso traz alguns desafios, como um número maior de alunos dentro daquela instituição etc...
Vai demandar um aprendizado novo. A gente brinca que os pesquisadores vão ter que se acostumar a ter alunos em todos os setores. Isso já ocorre, mas em dois anos a Ceplac vai se transformar em um grande campus universitário. Vai atingir com certeza todos laboratórios, a fábrica de chocolate, que aliás, será uma grande incubadora, para disseminação de tecnologias e formar empreendedores. Em contrapartida, os extensionistas da Ceplac estarão nos colégios universitários multiplicando a tecnologia da própria instituição. Essa será uma modalidade mais eficaz de extensão rural, em comparação com o modelo clássico, que se torna mais demorado e mais caro.

Duas perguntas, uma para cada um: para a Ceplac, o que foi a chegada da UFSB e para esta, o que representou encontrar a Ceplac?
Juvenal Maynart – A chagada da UFSB traz um ganho enorme para a região, a partir do momento que ajuda a Ceplac a entrar na modernidade. Ela traz profissionais num nível que, a partir dessa relação instituicional, nos fará dar um salto para essa modernidade, que se refletirá em ganhos para a região. Em outras palavras: sairemos de uma lógica de propostas que saem do ambiente interno da Ceplac e são apropriadas pelo campo político para incorporar uma proposta de estado nacional. Esse é o grande ganho para a Ceplac, a possibilidade de, com ajuda da UFSB, impulsionar nossa proposta de remodelagem intitucional.

E onde entra a universidade, especificamente, nessa proposta de remodelagem?

Com a sua chegada, com sua rede de tecnologia e sua proposta de educação descentrlizada, a UFSB deu para a Ceplac a oportunidade de rever o nosso modelo de atuação. Não mais devemos ficar atrelados a um modelo – que tanto funcionou, mas que hoje já não responde – que é, por exemplo, a extensão rural porta-a-porta. Quero dizer que, com a UFSB, poderemos adotar um modelo de assistência técnica que é praticado no mundo todo, onde a assistência dá certo, que é o modelo de multiplicadores. Isso no campo da extensão. Quanto à ciência, em sua remodelagem, a própria Ceplac adotará a política de demandas por editais, definidas nos fóruns representativos, para priorizar o atendimento ao setor produtivo, e os convênios de cooperação técnica, com órgãos de agricultura, ciência e tecnologia.

Como esse modelo funcionaria?


Poderemos, com a rede digital da UFSB, treinar multiplicadores que vão disseminar a ciência que produzirmos e acompanhar os resultados, usando a estrutura da universidade. Deixaremos de fazer a assistência porta-a-porta, e ganharemos muito mais terreno treinando multiplicadores. Voltaremos a fazer extensão rural, mas na lógica da modernidade, obedecendo, inclusive, ao que determina a Constituição de 1988, que limita a ação federal numa extensão de porta-a-porta.

E a UFSB, o que significou encontrar em seu caminho a Ceplac?

Naomar Almeida – Do ponto de vista da universidade, é uma oportunidade histórica muito grande se associar a uma instituição que fazia o que a universidade deve fazer muito bem. Ocorre que a situação istitucional da Ceplac apresenta uma uma série de situações estagnantes. Acreditamos que a universidade também vai contribuir para a recuperação institucional da Ceplac, contanto que esse pensamento que o superintendente Juvenal Maynart coloca, seja um consenso interno. Porque não será possível recuperar a velha Ceplac, mas remodelá-la, como ele diz, trazendo-a à modernidade. Os velhos tempos, passaram. Vamos formatar uma nova instituição. Fazer isso, em conjunto com uma nova instituição, que chega, requer que aproveitemos as vantagens, os benefícios, pontos positivos e fortes de cada uma delas. E com a chance histórica de não repetir os erros anteriores. No nosso caso, das velhas universidades e, no caso da Ceplac, os erros dos antigos órgãos de desenvolvimento regional.

Como diria Lulu Santos, “abandonar a velha escola”...

E eu acrescentaria mais um sentimento: quando a gente iniciou essa aproximação, tudo isso que está ocorrendo, a gente sabia que ocorreia, mas não esperávamos que fosse tão rápido. Tudo o que conquistamos até aqui, a gente esperava que fosse possível em dois anos. Tudo foi muito rápido, a complementaridade dos pensamentos, o entrosamento entre as equipes, tudo isso foi realizdo em um tempo muito menor do que prevíamos. Claro que nada é intuitivo, utilizamos técnicas de articulação estratégica, só que o sucesso disso está sendo maior que a nossa expectativa. Já estamos numa sincronia que resulta em muitos avanços. Exemplos concretos: o escritório de representação da Ceplac em Salvador, já é também o nosso escritório de representação; em Brasília, o escritório central, já é também nosso escritório na capital.

Existe a possibilidade de esse modelo que os senhores falaram se tornar algo muito segmentado, não despertando interesse de investidores de outras áreas, e assim prejudicando o desenvolvimento?

Não vou aqui diminuir a importãncia da Ceplac, de nosso casamento que está dando muito certo. Mas vou usar uma imagem um pouco forte: o casamento da universidade com a Ceplac não tem um “voto de monogamia”. Faremos outras parcerias. O setor produtivo na região está introduzindo dinamismo na parte de logística. Ferrovia, porto, aeroporto, as rodovias... isso é um multimodal completo. Itabuna vai ser um centro de logística onde os quatro modais vão convergir: ferrovia, rodovias duplicadas, aeroporto e porto. Na nossa opinião, isso vai consolidar aqui uma vocação de entreposto, não mais na lógica de entrepostos antigos, mas numa lógica nova, que é apelidada de just time, as coisas chegam no tempo. Com a modernização das relações, por meio da informatização e das redes, você pode montar um carro como você quer, o mesmo vale para um computador. Para essa parte tecnológica, estamos já em convergência com a Valec, principal investidor, agente econômico.

E nos outros centros...

O Polo de Informática de Ilhéus também será nosso parceiro, o setor de turismo industrial e o de produção de celulose. Assim, sistemas agroflorestais serão trabalhados com a Ceplac; tecnologia e transporte, com a Valec e Polo de Informática; e Ciências ambientais, com o setor de celulose. O principal parceiro de Ciências Humanas e Socias será o chamado trade turístico. Faltariam apenas Saúde e Artes. No centro de Saúde, trabalharemos em parceria com o SUS e no de Artes, acreditamos que podemos formar parceria também com o trade turístico.

Uma engenharia e tanta, poligâmica mas extremamente estratégica... Pois é. A equação que estamos trabalhando no nosso planejamento, é formar um conselho de parceiros-âncoras. O parceiro-âncora em Agroecologia é a Ceplac. Os outros parceiros-âncoras estamos trabalhando da forma como dissemos. Mas a pricipal característica é que não buscamos parcerias baseadas na exclusividade, mas não abrimos mão de que cada parceiria seja baseada na construção de sinergia. Foi assim com a Ceplac e avançamos. Deve ser assim com todos os parceiros.

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